quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Mamãe...deixe-me ser eu.


João e Maria são pobres e vivem com o pai e a madrasta. Numa noite, ouviram o pai falando à esposa da dificuldade que teriam para alimentar os filhos, sem possibilidade nem mesmo de ganhar o pão de cada dia. A madrasta propõe levá-los para a floresta e lá deixá-los. O pai não queria concordar, mas acabou cedendo. João muniu-se de pedrinhas brancas para marcar o caminho e assim conseguirem voltar. Na segunda tentativa, foram impedidos de juntar as pedrinhas e marcaram o caminho com migalhas de pão. Os pássaros comeram e acabaram perdidos. Avistaram uma casinha toda feita das mais finas guloseimas e começaram a comer. Surgiu a bruxa que os atraiu amavelmente para dentro e prendeu João numa gaiola. Maria ficou livre para fazer os serviços da casa. A bruxa alimentava e cuidava bem de João porque queria devorá-lo. Ele foi esperto e, quando ela pedia o dedinho para sentir se já estava bem gordinho, ele mostrava um ossinho de frango. E assim foi enganando a velha até que ela decidiu devorá-lo magrinho mesmo. Neste dia, Maria usando também de muita esperteza empurrou a velha para dentro do forno quente e a matou. Salvou o irmão, ficaram com as riquezas da bruxa e voltaram para casa, livrando o lar da pobreza.(conto de Grimm)

Esta é uma das histórias mais contadas para as crianças, entretanto, quantas mães se negam a contá-la evitando mostrar aos filhos a possibilidade de existirem mães ou madrastas tão ruins no mundo, capazes de deixar que seus filhos se percam na floresta e morram. Isto vai contra o instinto maternal natural da mulher.
Mas, elas existem e, vamos descobri-las.
Todos nós, ao longo da nossa existência, ora fomos mães, ora fomos filhos e também abandonamos e já nos sentimos abandonados.
Não acreditam? Vocês nunca fizeram isso? Querem saber quando? Vejamos.
A criança sente a sensação do abandono desde o momento em que não é mais carregada no colo, ou não é mais alimentada na boca ou é levada à escola e ali abandonada, ficando a mãe, “livre” dela para fazer as suas coisas. São florestas que a criança tem de enfrentar.
E isto é tão ruim assim? Então a mãe que “abandona” e “deixa o filho viver” é a mãe má?
Não, de forma alguma. A separação é necessária para o desenvolvimento, pois obriga o indivíduo a pensar e procurar a solução de seus problemas. Passa a acreditar na própria capacidade de saber enfrentar a vida. O fato de caminhar sozinho tem momentos de solidão, mas também tem seu lado excitante e atrativo. Voltemos à história de João e Maria e observemos quanto amadurecimento houve.
Vejamos o outro lado da moeda; aquela mãe superprotetora e controladora, que quer ficar com o filho no colo, garantindo-lhe a “comida” que, no sentido simbólico, quer dizer: valores, conselhos, atitudes e orientações. Enfim, mostra à vizinhança que é uma boa mãe, mas, o que pretende mesmo é ter sempre as rédeas da vida do filho nas mãos.
A mãe, como provedora e protetora tem que desaparecer, para que a criança encontre seu próprio caminho e valores, sua maneira de se proteger e alimentar. É claro que não se trata da morte concreta da mãe, mas do que ela representa, da sua função no aspecto negativo no papel de bruxa, fingindo ser boa e na verdade, querendo “devorar” a criança, assumindo os seus prazeres. Pode até cobrir o filho de mimos, como a velha bruxa que empanturrava o menino de boa comida, mas não para vê-lo desabrochar e sim para destruí-lo, explorando as suas energias.
Esta mãe utiliza o filho como troféu, alimentando-o, vestindo-o bem e, muitas vezes, encerrando-o numa gaiola dourada. À noite, ela pode até dormir tranqüila, pensando ter feito o melhor.
Como acreditar que uma mãe tão protetora possa ser terrivelmente ruim?
Podem ter certeza. Ela é...
...ambivalente, extremamente bondosa e generosa, mas também “devoradora”. Devorar, simbolicamente, seria a introjeção da inocência, força física e alegria de viver.
Caso esta mãe não seja interditada, o comportamento de recorrer ao “colo”, permanecerá no filho até mesmo quando já for adulto. Ele precisará sempre da opinião de algum amigo, marido ou esposa, enfim, qualquer pessoa que fique por perto para guiá-lo e ajudá-lo a encontrar a solução de seus problemas.
Qualquer criança, diante desta mãe, sente raiva, vontade de dizer muitas verdades, ou mesmo fugir de casa, mas é muito difícil livrar-se da figura da mãe, da bruxa que carrega em seu interior.
Este tipo de mãe, emocionalmente carente costuma reforçar os filhos do sexo masculino, dos quais, ela sabe, virá mais energia para sua própria fraqueza interior, e explorar os filhos do sexo feminino dos quais introjetará o lado afetivo, passivo, compreensivo e doce. Em ambos ela projetará a sua infelicidade e carências. Trata-se de uma troca, na qual as crianças saem extremamente prejudicadas.
Os filhos tornam-se enfraquecidos, pois, sendo mãe, a nossa própria cultura torna-a extremamente poderosa. Se não surgirem pessoas que os defendam, um bom pai, por exemplo, serão “devorados” e sobrará pouco da personalidade original.
E onde está esta mãe? Ela pode estar lá no fundo da nossa “floresta” interior, a nossa psique. Não basta cortar o cordão umbilical que segura o filho à mãe; é preciso enfrentar a mãe positiva e negativa que há dentro de todos nós.
De qualquer maneira, esta situação é muito difícil de se lidar, porque onde está esta figura terrível, encontra-se ao mesmo tempo, boa comida e bem estar.
Pensemos que tudo não passou de mais uma história. Façamos de conta que esta figura nem existe. Deus queira.
Mesmo assim, não esqueçamos de atender ao apelo dos nossos filhos:
“Mamãe, deixe-me ser eu”.




Raquel Frazão Brunelli é Pedagoga, Historiadora e Psicanalista Clínica, e pós-graduada em Teoria Psicanalítica. Dedicou-se por muitos anos à área da Educação exercendo cargos de professora de educação infantil, ensino fundamental e segundo grau, ministrando aulas de Ciências Sociais e da Educação. Atuou como Diretora de escola, Supervisora e Delegada de Ensino.
Vem, por todos esses anos buscando informações e pesquisando sobre relações parentais, em especial o papel das mães, tanto nos lares funcionais como nos disfuncionais. O produto de anos de pesquisa e trabalho culminou na descoberta da MÃE OGRA, um estilo especial e doentio de maternagem, uma vítima que vitimiza, uma perversidade camuflada e que promove uma tortura velada, originando seqüelas irreparáveis.
Presta atendimento em consultório à Avenida Francisco Prestes Maia nº 902, sala 92, Centro de São Bernardo do Campo. (F. 4125 52 33 – 4331 17 45 – Cel 7414 08 06 / 7210 10 10.)

2 comentários:

  1. OLA COMADRE !
    consegui entrar no seu blog;voce ficou importante ne!!!!!!darei sua nota mais tarde viu? espere de 1 a 10 !!!!!vivi!!!

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  2. Oi madrinha,

    Bem colocado tudo o que li. Excelente. Temos que criar hábitos de ler mais e nos aprofundarmos em
    estudos que realmente nos leve a ver o outro lado, não somente o que achamos certo, mas o que realmente seja bom aos nossos filhos.
    Nairzinha

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